sexta-feira, 18 de abril de 2008

Um corpo que cai

9 de julho de 1997

Explosão a 2.400 metros de altitude abre um buraco em avião da TAM e joga passageiro para fora. Suspeita de bomba revela a insegurança dos aeroportos brasileiros

Na quarta-feira 9, o engenheiro Fernando Caldeira de Moura Campos, 38 anos, deixou sua casa, num condomínio em São José dos Campos (SP), antes das 7h. Se despediu da mulher, Selma, das filhas Melina, 8 anos, e Amanda, 6 anos, e recomendou a elas que preparassem as malas para a viagem que fariam no dia seguinte à Fortaleza (CE). Campos passou rapidamente em sua empresa, a Amix Comércio e Integração de Sistemas Computacionais, deixou alguns papéis e seguiu para o aeroporto.

Às 8h30 embarcou no Fokker 100 PT-WHK, da TAM, com destino a São Paulo. No balcão do aeroporto, escolheu o assento 7C. Já no avião, porém, Campos encontrou uma família sentada na fileira sete e preferiu se instalar na poltrona 18E, na janela. Às 8h52 uma explosão acabou com os planos da família Campos, feriu sete pessoas, traumatizou os demais passageiros e tripulantes do vôo 283 e colocou novamente em xeque a credibilidade da TAM, a empresa que opera em maior número de cidades no País (109), teve lucro de US$ 56 milhões em 1996 e 13 dias antes do acidente recebeu o título "Empresa do Ano", concedido pela revista Exame.

O avião estava a 2.400 metros de altitude e a cerca de 500 km/h quando ocorreu a explosão que abriu um buraco com cerca de 1,5 metro de altura e 2,5 metros de largura na lateral direita do avião. O engenheiro Campos e três poltronas foram lançados para fora. "Foi um barulho enorme. Uma ventania danada, cheiro de pólvora e um monte de coisas voando em nossas cabeças. Algumas pessoas tinham sangue no rosto e todos gritavam", disse a comerciante Amélia Rosa da Silva. Ela e a filha Kelly, de 16 anos, embarcaram no vôo 283 em Vitória (ES). "Tinha certeza que iria morrer e me agarrei em minha mãe", lembra a garota, que ocupava a poltrona 5E.

O clima de pânico durou 11 minutos, até que o comandante Humberto Angel Scarel conseguisse pousar no Aeroporto de Congonhas. "A comissária Marta mandou que todos tirassem jóias e bijuterias para evitar ferimentos e começou a rezar", lembra o comerciante Eloir Cavati Filho, que viajava na poltrona 4E. Às 9h03, o avião aterrissou. "Quando o comandante abriu a porta e viu como estava o avião, deu uma bronca na comissária, pois não sabia que havia o buraco", diz Amélia.

Até então, ninguém sabia que o engenheiro Campos havia sido lançado para o ar. A própria direção da TAM só ficou sabendo às 9h50, pela Polícia Militar. Segundo os peritos do Instituto de Criminalística de São Paulo, durante a queda o corpo do engenheiro atingiu uma velocidade aproximada de 200 km/h. Quando chegou ao chão, em uma área rural do município de Suzano (SP), sofreu um impacto semelhante ao de um automóvel que a 100 km/h choca-se contra uma barreira de concreto. "Ouvi duas explosões, olhei para cima e não vi nada. De repente, alguma coisa passou na minha frente feito um foguete. Nunca imaginei que fosse uma pessoa", afirma a agricultora Maria Aparecida da Costa, a primeira a encontrar o corpo de Campos, próximo a uma plantação de nabos.

Fonte: Revista Isto É

Veja o histórico da aeronave:

PT-WHK - FOKKER F-28-0100 (11452)

Prefixo Operador DD
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PH-EZU FOKKER
PT-MCN TABA
PH-RRN FOKKER
PT-WHK TAM 19.01.1996
PH-RRN FOKKER
EC-IVO GEA AVIATION 01.2004
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09/07/2007

Dez anos depois, explosão em avião da TAM continua sem solução

Há uma década, uma pessoa morreu ao ser ejetada da aeronave; 57 sobreviveram.
Principal suspeito foi atropelado dois dias após incidente e não pôde responder processo.

Apontado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público como principal suspeito pela explosão de um Fokker-100 da TAM há uma década, em 9 de julho de 1997, o professor Leonardo Teodoro de Castro vive hoje com uma irmã na tranqüila cidade de Divinópolis (MG).

De acordo com seu advogado, ele está "em estado de quase demência". O professor foi considerado incapaz de responder à Justiça se foi responsável pelo artefato que, ao explodir, arrancou parte da fuselagem do avião. No acidente, ocorrido durante o vôo que seguia de São Paulo para São José dos Campos, o engenheiro Fernando Caldeira de Moura Campos, de 38 anos, foi ejetado da aeronave.

O corpo de Fernando caiu em uma propriedade agrícola em Suzano, na Grande São Paulo. Castro foi denunciado por um homicídio, 58 tentativas e por atentado contra a segurança aérea.

Três dias depois de sobreviver à explosão, Castro foi atropelado por um ônibus, na Avenida Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. Sobre a acusação de tentativa de homicídio, seu advogado apresentou o relato de uma das vítimas, segundo a qual ele espalmou as mãos contra a carroceria do veículo, numa clara tentativa de sobreviver ao atropelamento. O estado quase vegetativo de Castro congelou o processo.

"Ele passou quase um ano na UTI do Hospital São Paulo. Perdeu uma quantidade substancial de massa encefálica e, por isso, ficou em um estado de quase demência”, diz seu advogado, Tales Castelo Branco.

Com base no estado de saúde do paciente, Castelo Branco solicitou e conseguiu a suspensão do processo por período indefinido, embora Castro seja obrigado a fazer exames a cada dois anos para ver se ele retorna à sua atividade mental. “Se retornar, ele responde ao júri, se não retornar, o processo continua suspenso. Mas o estado dele é irrecuperável", afirma o advogado.

O G1 localizou Castro por telefone em Divinópolis, mas a prima dele disse que não queria dar entrevista. De acordo com o advogado, a fala de Castro é incompreensível.

Para Castelo Branco, o acidente com seu cliente "foi uma infelicidade muito grande porque impediu que ele mesmo prove sua inocência." A Justiça chegou a decretar a prisão preventiva de Castro, revogada antes mesmo do julgamento de um recurso (habeas corpus) ser apresentado por Castelo Branco.

No habeas corpus, o advogado afirma que não foram encontradas provas contra seu cliente e que o professor Castro não tentava suicídio quando foi atropelado pelo ônibus.

Artigos

Freqüentador da Igreja Cristã Evangélica de São José dos Campos, onde o engenheiro Fernando Caldeira de Moura era diácono, o professor Samuel Mendes escreveu diversos artigos para defender o seu amigo no momento em que especularam sobre a possibilidade Moura ter sido o autor da explosão.

Mendes apresenta o amigo como um homem simples, bem-sucedido, com vida financeira estável, incapaz de colocar bomba em avião. Ele conta que a mulher e as duas filhas do engenheiro, agora adolescentes, comparecem assiduamente às cerimônias da igreja. Selma Paccini, viúva de Fernando, não quis falar com a reportagem.

Para a TAM, que não informou se pagou ou não indenização à família de Moura, o acidente foi provocado “pela explosão de um artefato a bordo, que ficou comprovado ter sido provocado por um ato ilícito.”

Questionada sobre as providências adotadas para evitar novos episódios do mesmo tipo, a companhia informou “que as verificações de bagagens de passageiros são realizadas pelas administradoras de aeroportos.”

A TAM informou também que o Fokker-100 matrícula PT-WHK não está mais em poder da companhia. De acordo com Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave teve a matrícula cancelada.

Fonte: G1

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